terça-feira, 23 de novembro de 2010

O corintiano precisa de um lar acessível e popular

Análise Estádio do Corinthians: pauta antiga num novo cenário


fonte :  Portal do Jornal Brasil de Fato

19/11/2010

A história recente do glorioso Sport Club Corinthians Paulista é marcada pela ideia de ter uma casa que possa abrigar sua imensa nação. A construção do estádio do Corinthians ganhou força num cenário em que há uma conjuntura favorável devido ao fato do Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014. A nação corintiana precisa estar atenta ao debate, e defender o que de fato beneficiará o corintiano em geral. A construção de um templo para abrigar a fiel torcida não pode ficar refém de piratas que navegam nas ondas financeiras da economia de mercado.

O novo estádio do Corinthians será construído em Itaquera. A decisão foi tomada pelo presidente do Corinthians Andrés Sanchez. Aproveitando o momento, e a necessidade da cidade de São Paulo por um estádio para a Copa do Mundo de 2014, um acordo foi realizado. Dessa forma, foi anunciado em 27 de agosto de 2010 que o novo Estádio do Corinthians será também o palco do jogo de abertura da Copa. Desse acordo participaram o governador paulista, Alberto Goldman; o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Sabe-se também que o presidente Lula incentivou a Construtora Odebrecht no negócio. Assim sendo, a Construtora investirá R$ 300 milhões na obra, sendo duas as maneiras de arrecadação desse montante: por um lado, por meio de um financiamento do BNDES e com isenção fiscal. Por outro, pela exploração dos direitos de nome do estádio.

Em 1º de setembro de 2010, o Corinthians comemorou 100 anos de sua história social. Fruto de uma sociedade cuja história é marcada pela luta de classes, o S. C. Corinthians Paulista no futebol se formou como o representante dos trabalhadores e das classes populares. Num período em que tudo é “business”, querem nos enfiar goela abaixo o marketing do lucro e da exploração baseada nas relações de amor e paixão.

“O Corinthians é o time do povo, e é o povo quem vai fazer o time”, frase do trabalhador e primeiro presidente Miguel Bataglia, e que hoje ganha nova relevância.

O Corinthians e os corintianos têm no atual período histórico um papel importante: tomar consciência da sua função social enquanto organização movida pela paixão dos populares. Hoje os corintianos estão com a chance de contribuir, enquanto organização que mobiliza 30 milhões de pessoas, para que se diminuam as desigualdades sociais e para que os seus, trabalhadores e trabalhadoras, maloqueiros e maloqueiras, sofredores e sofredoras, possam participar no processo que funda e fundamenta este time de futebol e clube nos seus 100 anos de história. Essa chance se dá a partir do processo de construção e participação popular do estádio com seus torcedores.
Nossa pauta enquanto torcedores corintianos que se organizam é com a construção do estádio do nosso glorioso Corinthians. Um estádio que nos represente precisa demonstrar em sua proposta os fundamentos que permeiam nossa história: 1º) deve-se construir um estádio de fácil acesso pelo transporte público, e Itaquera é um ótimo lugar por ser a Zona Leste o grande reduto corinthiano, e reúne todas as condições para abrigar essa nação: estação de metrô (linha vermelha) e trem (linha coral); shopping Itaquera; avenida Radial Leste; avenida Jacu Pêssego (que liga o ABC Paulista, São Mateus e Itaquera ao Aeroporto de Guarulhos), etc.; 2º) o estádio deve tratar todos os torcedores corintianos como iguais que são, para que não haja privilégios. Todos devemos ter acesso aos serviços de qualidade. O estádio deve conter uma única arquibancada, sem divisão de setores e divisão de classes; 3º) o estádio é do torcedor corintiano para o torcedor corintiano, e precisa ser o patrimônio do clube. O corintiano deve ser tratado como participante desta construção e não como consumidor. 4º) o nosso estádio não deve ser uma obra faraônica, deve ser feito da maneira como pudermos fazê-lo, com simplicidade e praticidade, e que possa representar a nação corintiana em seus diversos aspectos.

No processo de construção do estádio deve haver estratégias que contribuam para o desenvolvimento do local onde será erguido (Itaquera, região e entorno) e para o desenvolvimento dos trabalhadores que participarão deste processo. Não queremos um estádio que remova a população pobre do entorno do terreno onde será erguido. Devem-se haver garantias para a permanência da atual população local nas suas atuais residências. É importante também que por meio do mote da Copa do Mundo, seja enfatizada a melhora do transporte coletivo na região, com a construção de pelo menos mais duas linhas de metrô que liguem Itaquera a outros pontos da cidade. A atual Linha Vermelha está saturada e transforma o andar de metrô numa humilhação cotidiana para os moradores da região. Sugerimos que a atual Linha Verde do Metrô seja estendida até Itaquera, e não até o Tatuapé. Desse modo, moradores da zona leste chegariam aos seus locais de empregos mais rapidamente, assim como a região hoteleira da Avenida Paulista teria fácil acesso ao novo estádio visando à Copa. Também sugerimos uma Linha de Metrô que una o ABC paulista ao município de Guarulhos. Dita Linha teria ponto final no Aeroporto de Guarulhos, e seria construída por toda extensão da Avenida Jacú-Pessêgo. Dessa forma, os turistas rapidamente se deslocariam ao novo estádio, e os trabalhadores moradores da região acessariam com facilidade o ABC e Guarulhos, regiões com variadas ofertas de lazer e serviços.

Pensando na construção do estádio, deve-se priorizar o trabalho em cooperativas, fomentando a autogestão destes trabalhadores. De preferência, devem ser contratados trabalhadores que morem na região. O trabalho não deve ser alienado e o tempo de trabalho deve ser menor para que os trabalhadores tenham tempo do descanso, do lazer e da instrução apropriados como elementos de autonomia, já que é possível usar a maquinaria na construção. Além do mais, não se pode deixar tudo nas mãos das empreiteiras, que hoje possuem um poder absoluto na construção de pontes, estradas, edifícios e até estádios. Cabe lembrar que estas empresas operam com base na super-exploração dos trabalhadores e com poucos investimentos em tecnologia para minimizar a brutalidade existente na construção civil. A Odebrecht não pode atuar apenas visando ao lucro e seus benefícios particulares. É preciso haver regulação e monitoramento na garantia da segurança do trabalho e a melhor condição para esses trabalhadores na produção do templo corintiano. O operário em construção faz a obra e é feito por ela. Não podemos nos manchar com o sangue dos operários no concreto devido ao moinho de gastar gente existente há tanto tempo no país. O Brasil de Todos será feito com a participação de todos, não apenas de dirigentes e empreiteiras.

Torcedor Corintiano, participemos deste processo como atores e não como marionetes. Vamos marcar debates públicos sobre esta decisão que para nós tem grande importância. Um estádio do Corinthians tem que ter a cara do povo, do povo maloqueiro e sofredor. A construção do estádio pode contar com os financiadores mais fiéis para sua realização: a nação corintiana. O Estádio Corintiano precisa ser a expressão desta imensa nação apaixonada e fiel: o Corinthians é o Corintiano. É necessário organizar campanhas, panfletagens em porta de estádio, faixas com dizeres que reflitam os interesses dos torcedores, mobilizações permanentes, camisetas e músicas da campanha, entre outras ações que possam reverter esse quadro de apatia e de perda de rumo dos torcedores organizados. Isso é fazer política, pautar os nossos interesses e criar as condições de convencimento de nossos pares na construção de um interesse comum: o interesse da nação Corintiana por uma sociedade igualitária.

Coletivo de Torcedores Corintianos
(Dudu, Sandro B.O, Pablo, Xandi)

* OBS : Dudu é membro dos Gaviões e liderança do Movimento Rua São Jorge

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