segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A COPA É DE POUCOS

fonte : Blog do André Kfuori
publicada em 21/11 no Lance!

A COPA É DE POUCOS

“Soccernomics”, dos britânicos Simon Kuper e Stefan Szymanski, é um dos melhores livros já escritos sobre futebol. Provoca no leitor o conflito entre o ímpeto de varar a noite virando as páginas e a vontade de ler só uma por dia, para que o final demore a chegar.

Kuper, jornalista esportivo, e Szymanski, economista, têm respostas para tudo e os números e evidências para sustentá-las. O livro deles diverte com assuntos “sem importância”, como uma fórmula matemática para prever resultados de jogos entre seleções nacionais. E educa com análises brilhantes sobre o futebol inglês e a história dos vencedores da Liga dos Campeões da Uefa. Também destrói mitos sobre a forma como clubes de futebol são administrados e sobre a importância econômica de grandes eventos esportivos para os países que os organizam.

Poucas mentiras são mais cabeludas do que as contadas por políticos e “autoridades” esportivas, em todas as partes do mundo, ao tentarem vender a ideia de que uma Copa do Mundo (ou uma Olimpíada) será “boa para o país”. Um evento dessa magnitude não se paga, não cria empregos, não estimula o turismo. O dinheiro que se gasta com arenas e infraestrutura é sempre maior do que o estimado, os postos de trabalho são específicos e temporários, a quantidade de visitantes é praticamente a mesma de anos anteriores. Os números jogados para a torcida no período que precede o evento são virtuais, inflados pela mesma bolha de negócios que pretende lucrar com eles. Nenhum argumento resiste, por cinco minutos, aos números reais verificados depois que a festa termina

É lógico que fazer uma Copa é interessante. Por aspectos sociais como o aumento da “taxa de felicidade” no país, por exemplo. Imagine um Mundial por aqui, onde se gosta tanto de futebol. Será um mês de diversão, um acontecimento.

Também é lógico que a Copa do Mundo é uma operação extremamente lucrativa, mas para setores específicos do mercado que se associam no que se chama de “indústria do futebol”. Construção civil, telecomunicações, agências de marketing esportivo, clubes que tiverem seus patrimônios valorizados pela competição. E como revelaram as recentes reportagens assinadas por Michel Castellar, neste Lance!, a Copa pode ser rentável para pessoas físicas que estão em posições privilegiadas.

O fato de o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, aparecer em contrato social registrado na Junta Comercial do Rio de Janeiro, como a pessoa que pode determinar o destino dos lucros obtidos pelo Comitê Organizador Local da Copa de 2014 é, por si só, um escândalo. A explicação de que o nome do dirigente sairá do contrato tão logo a lei brasileira permita que uma empresa tenha apenas um sócio não deveria encerrar o assunto. E a outra explicação, de que não entra dinheiro público (só da FIFA) no COL, não alivia.

O que assusta é o silêncio do Ministério do Esporte. O Governo brasileiro é o principal financiador do Mundial. Parece um perdulário despreocupado.

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