Campeão Mundial de Ingressos
Quando se faz uma crítica ao
atual preço dos ingressos praticados pelo Sport Club Corinthians Paulista é
quase unanimidade o entendimento de que há abuso nos valores praticados. Quase
unanimidade porque ainda há uma parcela de torcedores influenciados por teses
falaciosas cujo objetivo é dissimular para usurpar ainda mais o dinheiro do
torcedor. Estes teses aos poucos vão sendo desmascaradas.
Uma delas é a de que o ingresso
no Brasil é barato, porque “na Europa o preço... blá blá blá, blá blá blá...”. E
se é esse o argumento que escolheram para se contrapor a nós, é esse argumento
que vamos desmontar.
Quando comparamos o valor nominal
de um bem ou serviço podemos julgar a dificuldade ou facilidade de sua aquisição
não pelo soar assustador ou agradável do número citado, mas pelo esforço de
adquiri-lo via relação com a renda do indivíduo. Valores nominais são apenas
meras representações. Valores reais, estes sim, são a proporção da relação
esforço e benefício, ou o quanto o Torcedor se esforça para fazer a aquisição, e
o quanto a mesmo representa de seu orçamento.
Aí alguém diz: “A cadeira lateral
do Barcelona custa EU$ 137[1]. Aqui a
Libertadores custa R$ 200 a “similar” cadeira “Laranja”. A cadeira lateral
central do mesmo Barça custa EU$ 190, enquanto aqui a “similar” numerada coberta
R$ 300”.[2]
Quem faz a afirmação acima
compara 137 Euros para um trabalhador Espanhol com o equivalente 82 Euros[3] para um
trabalhador Brasileiro. E essa pessoa deve realmente achar que está correta em
seu raciocínio e pagamos pelo ingresso menos que eles. Porém, não contempla a
outra perna da questão: se compara custo de vida há que comparar nível de
rendimento médio anual desses trabalhadores. Do contrário vale a máxima: do que
vale você ter um salário de 1 bilhão por mês se um copo de água neste lugar
custa cem milhões? Seu salário equivale a 10 copos d’água. “Simples
assim...”.
Desmontando o argumento...
Abaixo a renda média anual dos Países mais relevantes em termos futebol:
Figura 1.[4]
Como vemos no quadro acima, a
renda média anual per capita no Brasil em 2011 foi de US$ 11.289[5], que são
equivalentes a R$ 20.570[6]. Significa que um
trabalhador Brasileiro situado na camada sócio-econômica média da população
dedica 0,97%[7] de sua renda anual
para comprar o ingresso da cadeira laranja, ou 19,4 horas trabalhadas[8], ou seja, quase
2,5 (dois dias e meio) de trabalho. É muito? É pouco? Vejamos...
A renda média anual per capita na Espanha em 2011 foi de US$ 32.545, que são equivalentes a R$ 59.300. Significa que um trabalhador Espanhol situado na camada média de sua população dedica 0,56% de sua renda anual para comprar o ingresso da cadeira lateral “equivalente” a cadeira Laranja do Pacaembú, ou 11,2 horas trabalhadas, ou cerca de 1,4 dias de trabalho.
Agora comparemos: o que é maior, 0,97% da renda anual, ou 0,56%? 19,4 horas de trabalho, ou 11,2 horas de trabalho? 2,4 dias de trabalho ou 1,4 dias? Agora sabemos que o Brasileiro paga 73% mais caro que o Espanhol.
Se considerarmos a numerada
coberta veremos que o trabalhador Brasileiro paga ainda mais caro que o
Espanhol, por uma posição similar em seus estádios. Mesmo que aquele pague R$
462, ou 190 Euros, isso corresponde a 0,78% de sua renda anual, ou 15,6 horas
trabalhadas, enquanto os R$ 300 que o Corinthiano para pela arquibancada coberta
correspondem a 1,46% de sua renda anual, ou 29,2 horas trabalhadas, 87% mais
caro que o Espanhol que vai assistir ao time do Messi.
Comparando com demais Países
Isso se tratando em termos de
Barcelona, na Espanha. E se considerarmos França e Alemanha, países com economia
mais robusta que esta primeira? Um torcedor do Lyon precisa trabalhar 3,5 horas
e um torcedor do Bayern de Munique precisa de 3,3 horas para adquirir um
ingresso similar à cadeira lateral. São países com renda per capita de US$
33.655 e US$ 36.449 (respectivamente R$ 61.323 e R$ 66.414), e que cobram seus
ingressos 44 e 45 Euros[9],
idem.
Abaixo gráfico com a quantidade necessária de horas trabalhadas para de adquirir ingresso em setor equivalente do Pacaembú, ou seja, lateral do gramado em uma situação em que há níveis A e B, em que o A seria lateral coberta (numerada) e B a cadeira “Laranja”, descoberta, e arquibancada e tobogã os mais populares[10]:
Figura 2[11].
Em uma outra visão, utilizando os
mesmos dados, podemos observar quantos ingressos dos demais times adquirimos com
um ingresso Corinthiano:
Pagamos pela arquibancada quase
quatro vezes mais que o Francês, o triplo do Argentino e o Português, o dobro
que o Alemão e o Italiano... Por quê? É uma situação que reflete a triste
realidade da situação fiscal Brasileira em que o Trabalhador possui alta carga
tributária e não tem contrapartida de serviços públicos a altura. Mais uma vez a
arquibancada é o espelho da sociedade.
Desigualdade social agrava o
problema da exclusão nos Estádios
Um agravante ao fato de o trabalhador Corinthiano pagar o ingresso mais caro é a questão da desigualdade social no País, em comparação com os outros Países em questão. O Coeficiente de Gini mede a distâncias das maiores e menores rendas dentro de uma sociedade. Como vemos no gráfico abaixo, embora decrescente na última década, a desigualdade social no Brasil ainda é alta e significativamente maior do que os Países envolvidos nesta comparação.
Se no Brasil a distância entre
ricos e pobres é maior significa que é mais sensível a população com menor renda
qualquer elevação no preço dos ingressos, aumentando o abismo entre aqueles que
têm ou não tem poder aquisitivo para freqüentar os Estádios, contribuindo de
maneira nefasta a exclusão de parte significativa de sua Fiel
Torcida.
Concluímos que devemos nos
mobilizar para impedir qualquer tentativa de aumento nos preços atuais dos
ingressos, aliada a ampla campanha de conscientização de que os atuais preços já
estão bem acima da realidade sócio-econômica Brasileira.
Brigada Miguel Bataglia
[2] Este trabalho
busca majoritária representatividade nos setores dos Estádios referidos,
excluindo deste os serviços premium onde não há comparatibilidade, como
os setores VIP de Pacaembú e Camp Nou.
[3] R$ 200 convertidos
em Euros na cotação do Banco Central em 30 de Março de 2012. 1 EU$ = R$
2,4300.
[4] Figura 1: dados do
Banco Mundial referentes a 2011. Produto Interno Bruto por Paridade de Poder de
Compra. Entende-se por PIB per capita o total de riquezas que um País produz por
ano proporcionalmente a quantidade de habitantes. Convenciona-se chamar riqueza
produzida de renda agregada, a mesma sendo deduzida da depreciação de bens de
capital e impostos indiretos. Se a regra valer a todos os Países comparados,
então usa-se PIB por Paridade de Poder de Compra.
[5] Fonte: Banco
Mundial.
[6] Cotação Dólar
Comercial no site do Banco Central do Brasil, referência 30 de Março de 2012.
1US$ = 1,8221.
[7] R$ 200 divididos
por R$ 20.570.
[8] Considerando 250
dias úteis por ano vezes uma jornada de 8 horas diárias = 2.000 horas / ano.
Daí, temos como renda média R$ 20.570 / 2.000 horas = R$ 10,28 / hora. R$ 200 da
arquibancada “Laranja” / R$ 10,28 = 19,4 horas trabalhados.
[9]
Fonte:
[10] Foram utilizados
no cenário do futebol mundial os principais centros e o clube mais relevante de
cada país. A Grécia ficou de fora porque em todos os meios de aquisição oficial
de ingressos são necessários login e senha, e não houve retorno a tempo de
confirmação de acesso.
[11]
Fonte:
3 comentários:
Tambem, alem disso, devemos levar em consideração a estrutura dos estadios europeus, o que eles fornecem a quem frequenta. Será que é um cachorro quente duvidoso custando o olho da cara? Será que eles usam um banheiro estilo carandiru? Será que os europeus, quando levam seus filhos aos estadios, dão a eles pipoca, amendoim e salgadinhos de procedencia duvidosa igual somos obrigados aqui no Brasil?
Olá Pulguinha!!!
Sou solidário a sua causa... Hoje vivo em Buenos Aires, e os ingressos aqui estao muito caros tbm, futebol aqui esta virando produto para elite e turistas, e o povo cada vez mais longe dos estádios!!
Seu texto está interessante e vou usar como fonte se você permite!
Ah, achei a letra do seu blog muito pequena, nao sei se sou cego, mas tive dificuldade para ler hehehheh só um toque para melhorar...
grade abs e parabéns pelo texto
bruno
Muito bacana o estudo. Fiz uma crítica alguns dias atrás sobre a postura dos gaviões em relação a isso e outros assuntos, mas não deixei sugestão. Pois bem; por que não vamos em grande número na entrada das tribunas (conselheiros e diretores entram por lá, certo?) e setor VIP do Pacaembu soltar nossa voz lá todos os jogos? para isso acontecer basta comunicação da diretoria da torcida com o associado.
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