sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Nota da ANT-SP sobre o jogo Palmeiras x Universitario de Sucre (BOL)

Nós da Associação Nacional dos Torcedores - Núcleo SP repudiamos a marcação de jogos às 22h em dias de semana, com ingresso mínimo a R$ 20,00 e em locais sem transporte público disponível em quantidade e qualidade. Esse foi o caso do jogo de ontem entre Palmeiras x Universitaro de Sucre (BOL), na Arena Barueri, com o agravo de que com a queda de energia no começo do segundo tempo os torcedores, que já estavam em situação de completo desrespeito, ficaram ainda mais prejudicados no trajeto de volta para casa.


Confira abaixo na íntegra nossa nota sobre os acontecimentos de ontem:

Respeitem o torcedor!

Na noite de ontem, 20 de outubro de 2010, o time do Palmeiras enfrentou os bolivianos do Universitario de Sucre, jogo de volta das oitavas de final da Copa Sul-Americana. O jogo, como todos os outros com horários definidos pela televisão, começou às 22h - sobremesa da novela, quem trabalha no dia seguinte que se vire com poucas horas de sono. Isso já seria um problema caso a partida tivesse sido disputada no Parque Antarctica, casa do time alviverde. Mas, graças à onda modernizante (ressaltando seu significado elitizador), os Jardins Suspensos do Palestra Itália, que aliás deixarão de ser suspensos com o rebaixamento do campo, assassinando assim a tradição e a arquitetura característica do estádio, estão em reforma para dar lugar à Arena Palestra, mais um estádio adaptado às "necessidades" da toda-poderosa FIFA.

Com isso, ontem o time do Palmeiras jogou na também arena de Barueri, na cidade de mesmo nome. Mas quem não está familiarizado com a geografia da Grande São Paulo pode ainda não ter identificado um problema. Seguem, então, alguns dados.

Barueri é um dos muitos municípios-satélite da enorme da cidade de São Paulo. Distante 26km a oeste da capital, ficou mais conhecida no cenário futebolístico nacional pela ascensão do clube-empresa que até o início deste ano era sediado lá, o Grêmio-SP, às divisões principais do futebol paulista e brasileiro. Porém, brigas entre prefeitura - dona da Arena - e investidores - donos do clube-empresa - levaram o Grêmio-SP a Presidente Prudente, no que foi um dos casos mais polêmicos do nosso futebol neste ano.

A Arena de Barueri, então, ficou "às moscas". O estádio moderno construído junto a uma região pobre da cidade - onde há pontos, principalmente nos setores menos caros, em que não se enxerga todo o campo, os famosos pontos cegos - vem sendo utilizado desde então principalmente pelo Sport Club Barueri, ex-Campinas Futebol Clube, outro clube-empresa que também mudou de cidade e disputou esse ano a Série A3 do futebol paulista. Casa cheia na Arena? Nem pensar. Nem quando os grandes de São Paulo, atraídos pela possibilidade de renda maior que a do Pacaembu oferecida pela prefeitura de Barueri, resolvem jogar lá.

Com o Palestra Itália fechado, foi o que o Palmeiras fez ontem. O torcedor palmeirense da capital, então, se viu na situação de ter que ir até Barueri às 22h para um jogo que acabaria no mínimo 0h - no mínimo, porque poderia haver disputa de pênaltis. A Arena Barueri, pra piorar a vida do torcedor, fica no limite oeste do município, perto da divisa com Jandira, e a possibilidade de acesso via transporte público é praticamente uma só: o trem, que pra quem vem de São Paulo, mesmo que da região oeste da cidade, significa uma viagem de quase 1 hora e mais uma caminhada de 20 minutos até o estádio. Ir de carro, portanto, é a melhor "opção" - ou seja, o torcedor não-motorizado já está em enorme situação de desvantagem.

O cenário já é bastante absurdo, um desrespeito completo com o torcedor e um retrato do refém que se tornou o futebol brasileiro em meio ao discurso modernizador/elitizador do esporte. Jogo às 22h, fora da cidade-sede do time mandante, ingresso a R$ 20,00 no mínimo (uma pequeníssima carga deles apenas), sem transporte público garantido na volta - os trens param pouco depois da meia-noite. Pra piorar a situação, aos 50 segundos do segundo tempo, a energia do estádio caiu, paralisando a partida em mais de 30 minutos.

Se a pergunta "como os torcedores voltarão para casa?" já era muito difícil de ser respondida por quem não tem carro, agora era impossível. Ou melhor, agora a resposta era fácil. O Palmeiras, clube com milhões de torcedores espalhados pelo país, venceu o Sucre por 3 a 1, com apenas 10.741 presentes - a capacidade do estádio é de 35.000 pessoas e para ontem foram disponibilizados 28.890 ingressos. O jogo terminou à 0h32. Grande parte dos torcedores não voltou para casa - amanheceu em Barueri. A renda do jogo foi de R$ 236.477,00, o que dá uma média de aproximadamente R$ 22,00 por ingresso - assumindo-se que todos os torcedores pagaram ingresso, o que é pouco provável; R$ 22,00 para ter de sair antes do fim do jogo para conseguir chegar em casa ou ter que dormir na rua.

Diante disso tudo, situação que não é casual em nosso futebol, deixamos a você, torcedor e cidadão, mesmo que não tenha o hábito de ir aos estádios, a pergunta: até quando nos submeteremos a esse tipo de tratamento? Nossa paixão vale tão pouco para sermos desrespeitados a esse ponto sem falar ou fazer nada?

Nós da Associação Nacional dos Torcedores achamos que não. Já basta. Já chega. Mas pra conseguirmos mudar essa realidade precisamos da força de todos os torcedores, independentemente do clube para o qual torçam.

Portanto, se você também ficou indignado ao ler esse texto, venha nos conhecer e participar. Entre em http://www.torcedores.org/ e junte-se a nós. No domingo, no Pacaembu, já estaremos fazendo barulho antes e durante o derby entre Corinthians x Palmeiras.

Porque somos muito mais que consumidores, somos torcedores. E exigimos respeito.

Associação Nacional dos Torcedores - núcleo São Paulo
Torcedor não é palhaço!

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