terça-feira, 3 de agosto de 2010

Veja o que rolou no II Seminário do Gaviões da Fiel TorcidaII Seminário do Gaviões da Fiel Movimento Rua São Jorge

Fundadores, lideranças e nova geração do Gaviões realizam debate sobre o Corinthians e o Gaviões da Fiel Torcida.

No último sábado (24), o Gaviões da Fiel Movimento Rua São Jorge promoveu o seu segundo seminário, com a presença de aproximadamente 120 pessoas, no auditório do teatro do Sport Club Corinthians Paulista. Contraditório ou não, foi dentro da nossa própria casa que discutimos e refletimos sobre a atual conjuntura da razão de nossa existência, o Corinthians.

No período da manhã, a juventude do Gaviões participou de forma ativa, com a presença até mesmo de militantes do Vale do Paraíba e da Baixada. Após acompanharem o vídeo “A História das Coisas”, que contribuiu como pano de fundo para a discussão de quem somos nós, a nova geração assistiu, atentamente, ao discurso de um dos grandes líderes do Movimento RSJ, o Zinho. No vídeo transmitido da atividade de 3 anos do Movimento, Zinho alertou: “Não estamos brincando de movimento ou revolução, então temos que ficar ligados, rapaziada. Tem que se informar, ir atrás, colar no movimento e saber o que está acontecendo”.

Em seguida, dentro de uma organização democrática, eles puderam discutir e falar o que pensam do Movimento nesses três anos de existência. Dividiram-se em grupos de discussão e depois socializaram suas análises entre todos. Foi realizada uma espécie de autocrítica, que contribuiu com os apontamentos para uma possível estratégia que possa vir de encontro à unificação do Gaviões da Fiel.

                                 Grupo de discussão apresenta suas ideias a todos os presentes

Dentre os aspectos negativos levantados estão questões tais como a vaidade, o conformismo, a divisão, além do fato de alguns pregarem ideologia e postura, mas não viverem no seu dia a dia. Na fala de um dos militantes ficou bem clara tal observação: “tem muitos, até mesmo lideranças, que cobram, por exemplo, a volta do mar negro e vão com camisa vermelha para a arquibancada. Outros dizem que não tem dinheiro para acompanhar o Coringão, mas preferem sair de role ou comprar corrente cara. Tem quem cobre gritar 90 minutos na arquibancada e fica de braço cruzado. É contraditório”.

Dessas análises surgiu o debate de que as lideranças precisam formar e dar exemplo, e não apenas brigar e cobrar. Ninguém chegou aos Gaviões sabendo de tudo, por isso é preciso orientar a molecada que chega despreparada. Em contrapartida, a nova geração precisa fazer por merecer, pois cometem muitas falhas também, até mesmo na internet, como foi citado por um dos integrantes. “Internet é um lixo para a torcida, pois muitos não sabem usar. Colocam fotos e comentários com preocupações erradas, falando demais e sem ação. Muitos não sabem o que falam e acabam prejudicando toda uma caminhada que tentamos construir”, argumentou um dos presentes.

Autocrítica, propostas, cobranças, apontamentos, assim foi todo o período da manhã. Uma conversa consciente em que todos enxergaram que a falta de formação atrapalha muito nas estratégias e objetivos do Movimento. Muitos frequentam a Rua São Jorge, mas não sabem explicar por que existimos? Por que estamos lá? O que queremos? Somos julgados e mal compreendidos, por isso muitos levantam aspectos que não condizem propriamente com a realidade do Movimento. Daí a grande orientação de Zinho, de que a juventude precisa participar, se interessar, procurar saber mais e mostrar para todos o que de fato significa ser Gaviões da Fiel Movimento Rua São Jorge.

Espelhos de nossa história

Aos poucos, fundadores e grandes líderes da história do Gaviões foram chegando e enriquecendo o debate: Roberto Daga, Julião, Pantcho, Zerbine, Geléia, Metaleiro. Ernesto Teixeira, da velha guarda, também esteve presente. Foi uma bela tarde de Corinthianismo.

                                                           Daga, Julhão, Panctho e Geléia
A juventude, atenta na plateia, pode desfrutar de histórias, análises, experiências, além da ideologia pura daqueles que fizeram a história. Ensinamentos, orientações e explicação do que significa ser Gaviões da Fiel na pele e na essência. Daga e Julião alertaram sobre o fundamental entendimento de que “o Corinthiano não se serve do Clube e sim serve o mesmo, sempre”.

Um dos maiores objetivos do seminário foi pensar possíveis caminhos para a unificação do Gaviões da Fiel Torcida, motivo este que é o maior desejo daqueles que deram início a tudo e sofrem por ver a atual situação, como explicou Daga. “O Gaviões sempre foi inteligente para lidar com qualquer situação e nunca desistimos. Nascemos em um período difícil, de ditadura. Tínhamos consciência política e alcançamos nosso objetivo, derrubamos Wadih Helu. Os Gaviões não desiste nunca e eu acredito muito na unificação, por isso estou muito feliz de estar aqui hoje”, complementa.

Julião ainda relembra: “teve um momento em que foi muito difícil, ficamos em seis, mas éramos muito unidos, por isso conseguimos tudo o que conseguimos. Agíamos com inteligência e nossa prioridade sempre foi primeiro o Sport Club Corinthians Paulista e depois os Gaviões”.

Esses fatos e ideias, que fazem parte da ideologia da entidade, vão de encontro à intervenção feita por Pulguinha, liderança do Movimento, em que orienta a militância aprender a conviver com as divergências de ideias e posições e, assim, organizar as atuações para a retomada de um caminho que possibilite a conquista de todos os objetivos. No entanto, ainda alerta: “os Gaviões não têm dono. Os Gaviões somos todos nós, por isso a união é fundamental”.
                                                Esq. a dir. Minduím, Dudu e Pulguinha

Quem somos nós?

Na mesa da tarde, mediada pelo organizador do seminário e liderança do Movimento, o Dudu, participaram Sandro Barbosa, Gavião e sociólogo, e Tiarajú Pablo, também Gavião e sociólogo. Com o objetivo de resgatar a nossa história para entendermos quem somos nós e refletir sobre a atual situação do Corinthians e de nossa torcida no Brasil neoliberal, os dois estudiosos fizeram diversas análises, apontamentos e explicações sobre as contradições em que vivemos, assim como a volta do futebol elite cem anos depois de nossa fundação.

                                         Esq. a dir. Tiarajú Pablo, Dudu e Sandro Barbosa

Nascemos sob a luz de um lampião, idealizado por operários inspirados em imigrantes anarquistas, numa conjuntura social em que os trabalhadores eram excluídos, inclusive, da participação na liga de futebol, predominada, até então, pela burguesia. Com a chegada do Corinthians, o controle, a burocratização e a mercantilização do lazer passam a ser desconstruídos, pois os operários deixam de ser meros espectadores de suas vidas e passam a buscar protagonismos dentro da esfera social. O Corinthians passa a ser, como dizia Miguel Bataglia, “o time do povo”.

Diante desses fatos, Sandro provoca todos a se questionarem e, com isso, buscar elementos que ajudem a compreender a nossa atual situação. “As perguntam que movem tudo. Precisamos nos questionar sempre. O que é esse povo? O que é ser Corinthiano? Qual é o lugar e o papel dos Gaviões na história?”, completa.

A história do Sport Club Corinthians Paulista e, consequentemente, de nossa torcida estão ligadas com a história política da sociedade brasileira e das classes populares, explica Sandro. O Gaviões da Fiel nasceu dentro de um contexto político complexo, em um período ditatorial, em que a repressão havia sido intensificada com o ato institucional AI5, decretado em dezembro de 1968.

Como explicou Tiarajú, nos anos 60, os políticos usavam o futebol com o discurso de uma falsa inclusão social, na intenção de deixar o povo ocupado e longe do debate e das questões políticas que definiriam a trajetória do país e da vida de toda a população. Foi, então, que os torcedores usaram o próprio futebol e a arquibancada para se organizarem e passarem a ser também protagonistas da história, interferindo, por exemplo, na ditadura de Wadi Helu dentro do Corinthians. Em paralelo, a torcida levou manifestos políticos do clube e do Brasil ao estádio, entoando cânticos, abrindo faixas e contribuindo com o debate na arquibancada.

Entretanto, consciência política e povo organizado nem sempre é o interesse de quem está no poder. Com isso, em paralelo à mercantilização do futebol e ao aprofundamento do modelo neoliberal no Brasil e no mundo, veio a exclusão do povo e da torcida organizada de futebol dos estádios. “Eles são espertos e tentam acabar com nós aos poucos. Primeiro proibiram os ônibus de graça que levavam a torcida ao morumbi, depois gradearam as arquibancadas do Pacaembu, colocando limites entre classes sociais, então tiraram nossas bandeiras, proibiram nossas roupas de organizada, a TV globo que manda em horários, datas e afins. Querem nos aprisionar dentro de casa agora. Passaram cem anos e voltamos ao futebol elite”, argumenta Tiarajú.

Todos os fatos históricos, argumentos e análises colocados em debate no seminário, além de contribuírem para a formação e a união, ajudaram no entendimento de um possível caminho para o início da unificação: todos juntos pela democratização dos valores do ingresso e do título para se associar ao Corinthians. “Temos muitas coisas para fazer e muitas lutas para travar, não podemos ficar parados. Um bom início poderia ser a luta pelo valor do ingresso”, alerta Dudu.

Apesar da conclusão de que o caminho a percorrer é difícil e complexo, Tiarajú finaliza: ”A história nos mostra que o Corinthiano é mais forte na derrota. A torcida não foi vencida em tantas batalhas, e não será agora. Por isso, encerrarei com a fala de um herói anônimo: Corinthians minha vida, minha história, meu amor”.

Comente esta matéria no blog “Voz da Rua”.

Veja o artigo no site do Movimento Rua São Jorge - http://www.movimentoruasaojorge.com/

Nenhum comentário: