sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Entrevista com Sócrates sobre o centenário

O que mudou do Corinthians dos anos 70 e 80, de quando você jogou, para hoje?


Deve ter mudado bastante. O negócio do futebol cresceu muito. A entrada de mais recursos, você tem mais capacidade de invetsimento, e obviamente a infraestrutura deve ter melhorado, fisiologia, etc. Mas a grande força do Corinthians não está nem nisso, e sim na arquibancada. Nisso não mudou nada.

Os ingressos subiram muito. A torcida corinthiana é conhecida como fiel exatamente porque antigamente nao havia espaços para tantos corinthianos em nenhum estádio, e estadios que tinham capacidade para mais gente. Hoje o corinthiano de origem mais humilde, da zona leste, não tem mais aquela relação de ir para o jogo, festejar, por causa do valor do ingresso. O Corinthians completa 100 anos. O que representa o Corinthians pra você?

É um simbolo de brasilidade, do que nós somos. Você falou da questão de acesso aos jogos, realmente isso limita muito a grande massa, não só a corinthiana. Agora, a paixão, isso não modifica, porque ela está enraizada. Talvez o corinthiano em si tenha muito mais dificuldade de ir ao campo de futebol hoje. Até porque os estádios estão mais limitados do que eram. Mas a paixão continua a mesma, talvez até aumente, porque, e é uma dicotomia interessante, os jogos podem ser até menos atrativos hoje, mas o interesse pelo futebol aumenta perceptivelmente e não se sabe exatamente porque. Talvez seja uma opção de agregação social. Uma bandeira que as pessoas estão cada vez mais necessitadas de ter para se reunir e ter causas em comum.

Como voce gostaria de ver o Corinthians nos próximos 100 anos?

Não vejo o Corinthians com idade. É como Deus. Deus não tem idade. O Corinthians é muito maior que a idade que ele possa ter. É um simbolo, uma essência, um sentimento, é claro que o centenário tem um valor simbólico e as pessoas se reúnem em torno desse simbolo, mas isso é secundário em relação à importância que tem algo que agrega tanta gente de origens absolutamente distintas. O corinthiano é o Brasil, diversidade cultural e racial.

Você acha que de alguma forma o Corinthians vai voltar a receber o povão também nos jogos de seu time?

Isso depende muito de politicas né? Você tem gestões que podem ter visões distintas. Eu, se presidente do Corinthians, faria no minimo um grande espetáculo popular a cada mês.

Teria um espaço no estádio reservado para ingressos mais baratos e para os corinthianos que não podem mais ir ao estádio voltarem?

Ao contrário. Faria um jogo só pra esses. Jogos casados, eu faria. Um "caro" e um "barato", e voce poderia comprar só um ou outro dos ingressos. E jogos do mesmo peso.

Você acha que para o corinthians os títulos são menos importantes que para os outros times?

O título para um torcedor tem mais relação com aquela coisa interpessoal, com vizinho, amigos, mas na verdade o titulo é o menos importante daquilo que é o sentimento. O título é efêmero, amanhã começa outro campeonato, que será muito mais difícil de ganhar porque ninguem ganha tudo sempre. O título é mais a relação de confraternização, mas o que vale é a paixão, e você vê isso no corinthiano quando ele perde um titulo e usa a camisa no dia seguinte. É a paixão, independente daquilo que ele conquiste.

Jogar no Corinthians mudou sua maneira de ver a sociedade ou de questioná-la?

Boa parte do que eu sou eu devo ao que aprendi com a torcida corinthiana.

A palavra amor combina com essa relação até hoje?

Não sei se é amor. É algo que mistura um pouco de irracionalidade, pois mistura paixão e amor, mas tem racionalidade também, pelo aprendizado, ter acesso a determinados conhecimentos, mobilizar isso intelectualmente pra poder dar retorno à expectativa desse mesmo povo que me colocou como porta-voz dele. Acho que tem uma mistura que eu não sei que peso tem.

Em algum outro time você poderia ter vivido a mesma coisa?

Não.

Diga algo pra torcida corinthiana.

Corra atrás da felicidade. O Corinthians é um bom braço para isso.

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