domingo, 4 de abril de 2010

Mapeamento da polícia carioca identifica locais onde facções se reúnem para ataques

fonte : Jornal O Dia on line (Rio de Janeiro)

Torcidas organizadas para o campo de batalha


POR AMANDA PINHEIRO

Rio - Três ataques que deixaram um torcedor morto e três baleados, no Rio e em São Gonçalo, mês passado, fizeram ressurgir, com toda fúria, a sangrenta rivalidade entre torcidas organizadas. São crimes que deixam claro que, além da preferência por um clube, esses grupos se unem para demarcar territórios e combinar uma forma de enfrentar os inimigos, como mostra mapeamento feito pela Polícia Civil. Em oito meses de investigação, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) identificou, em sites de relacionamentos, os mentores de brigas entre facções, e vai pedir a prisão de alguns deles ainda esta semana. A Polícia Militar também promete providências: já para o Campeonato Brasileiro, em maio, todos os membros de torcidas organizadas serão cadastrados e monitorados pelo banco de dados da Secretaria de Segurança.



Investigadores do Setor de Homicídios da 73ª DP (Neves), em São Gonçalo, que apuram o ataque a vascaínos orquestrado por flamenguistas, no último dia 11, descobriram que os episódios recentes são continuação de brigas que começaram ano passado e que deixaram mais de 10 baleados em um único dia. “As torcidas de Niterói e São Gonçalo estão se armando com o apoio de grupos do Rio, vindos do Parque União, na Maré, e de São Cristóvão. Os grupos rivais se reúnem às quintas-feiras e fazem um round a cada semana”, afirma o delegado Clóvis Moreira.

A delegada Hellen Sardenberg, da DRCI, quer saber ainda como funciona a estrutura financeira de grandes torcidas organizadas, como Força Jovem do Vasco, Raça Rubro-Negra, Torcida Jovem do Flamengo, Fúria Jovem Alvinegra, Força Flu e Young Flu. A polícia tem informações de que parte dos líderes não trabalha, mas ostenta um padrão de vida elevado, com imóveis caros e carros de luxo. O setor de investigação já identificou ainda torcedores que aparecem armados em fotos que circulam na Internet. Eles terão a quebra dos sigilos bancário e telefônico pedidos à Justiça e poderão responder pelos crimes de porte ilegal de arma, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.

Torcedor fanático do Flamengo e membro de uma organizada há décadas, João Baptista (nome fictício) conhece bem os bastidores das brigas entre torcidas. “O Parque União, na Avenida Brasil, é um ponto certo de confrontos sangrentos. É um reduto de flamenguistas, mas torcedores de outros times passam por ali, em dias de jogos, preparados para brigar. Há caminhos alternativos, mas eles se encontram de propósito. Nem todos os integrantes de torcida são bandidos. Prova disso é que os integrantes da cúpula das maiores torcidas são amigos. O problema é que há muita gente infiltrada que se aproveita para incitar a violência”, analisa o torcedor.

Um estudo sobre violência nas torcidas, coordenado pelo sociólogo Maurício Murad, mestre das universidades do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Salgado de Oliveira (Universo), em Niterói, mostra que, nos últimos dez anos, 42 pessoas foram mortas em brigas de torcida no Brasil — 24 só no Rio de Janeiro. Esse índice torna o País o recordista nessa guerra. O pior é que 78% das vítimas não eram integrantes de facções de torcidas organizadas e não estavam envolvidos na briga.

“A polícia deveria atuar com a mesma inteligência e rapidez com que os torcedores bandidos se articulam. Que fique claro que apenas 5% ou 7% dos torcedores estão envolvidos nessa guerra, mas essa minoria está cada vez mais forte, armada e drogada, o que põe em risco todo o grupo, além de pessoas que não têm nada a ver com isso”, diz o sociólogo. “Os crimes ligados à guerra de torcidas são investigados por delegacias diferentes. É preciso criar uma rede de informações, com o apoio da PM, para ajudar nas escoltas”, acredita Murad.

Foto: Alexandre Brum / Agência O DiaRegras para se adequar à Copa

A novas regras de comportamento para torcedores nos estádios acabaram de ser estabelecidas. De acordo com tenente-coronel Luiz Octávio da Rocha Lima, comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), a ordem de padronizar o policiamento nos estádios partiu do Ministério da Justiça. O objetivo é dar mais segurança aos torcedores da Copa de 2014, mas a mudança entra em vigor já no mês que vem. “Vamos chamar os líderes de torcida para repassar as regras. A partir de agora, só será permitido um bandeirão por torcida e dez instrumentos de bateria. Ainda não vamos impedir a entrada das bandeiras com mastros, porque os torcedores do Rio não têm a cultura de utilizá-los para brigar, como acontece em outros estados, mas se for preciso, o faremos”, garantiu Lima.

Para impedir o confronto entre torcedores rivais, em dias de jogos, a PM vai reforçar o policiamento no trajeto feito por eles desde o ponto de encontro dos grupos até o estádio. “O mesmo vai acontecer em pontos onde as brigas frequentemente acontecem, como na Leopoldina. Em Niterói, vamos contar o apoio do 12º BPM, mas é impossível escoltar todos os torcedores em todos os lugares”, admite.

Atirador que baleou jovem está identificado

Policiais da 72ª DP (São Gonçalo) já identificaram o homem que, segundo testemunhas, baleou o torcedor do Flamengo Maicon Marins da Silva, 16 anos. Segundo o delegado Adilson Palácio, o criminoso não faz parte de torcidas organizadas, mas teria dito ao rapaz que o bairro Boa Vista, onde o crime aconteceu, era um território de vascaínos. Maicon foi baleado na nuca e está internado em coma.

Dias antes, Anderson Ferreira Ribeiro, 19 anos, morreu ao levar um tiro na perna e outros três vascaínos ficaram feridos. Eles são integrantes da 7ª Família da Força Jovem do Vasco e voltavam de uma reunião, quando foram atacados a tiros. Segundo a polícia, os principais rivais desse grupo são membros do 8º Pelotão da Torcida Jovem do Flamengo, que se reúne, em um local próximo e no mesmo dia, quinta-feira.

CONFRONTOS

CLASSE MÉDIA

Três jovens foram indiciados por tentativa de homicídio e formação de quadrilha, depois de uma briga entre torcedores, no Leblon, após a conquista do hexacampeonato do Flamengo, ano passado. Os três têm cerca de 30 anos e são de classe média.

CONFRONTO

Pancadaria entre cerca de 50 vascaínos e rubro-negros levou pânico à Penha, no dia 14. Seis homens foram detidos. Um deles, flagrado com morteiros e uma granada feita com pólvora e pregos, foi autuado e preso em flagrante. Também foram apreendidos pedaços de pau com inscrições das torcidas organizadas dos dois clubes. Na delegacia, a polícia descobriu que um dos homens respondia na Justiça por tentativa de homicídio contra um policial.

MORTE NO SUL FLUMINENSE

Ano passado, um torcedor do Botafogo foi morto, após briga de integrantes da Fúria Jovem e da Torcida Jovem do Flamengo, em Volta Redonda.

2 comentários:

Sem contra-indicação e sem preconceito disse...

Oi, PUlga

Tudo bem?

Preciso conversar com vc, mandar um email. Não sei se sabe, mas hoje eu escrevo para o blog Torcida Feminina (www.torcidafeminina.com.br). Me mande um email para conversarmos...elaileme@gmail.com

bjs

Elaine

Brunão disse...

No rio a deselegância é maior ainda.