sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Carta ao jovem torcedor

Por Rubens Calábria

Querido jovem torcedor,

Tenho exatos 81 anos e nasci no Bom Retiro, pouco antes que
minha família se mudasse para a região do Tatuapé.

Nasci no ano da inauguração do Parque S. Jorge e
orgulhosamente Campeão Paulista.

Sou corinthiano desde que sou gente. E não lembro de um dia
sequer em que não tenha pensado no nosso Timão.

Fiz muitas coisas na vida, como nadar no Tietê e ajudar a
construir Brasília, trabalhando como eletricista.

Lá, eu fiz muitos amigo candangos. Ele me conheciam como o
"corinthiano", porque eu costumava andar pelo Planalto
Central com uma camisa branca, com nosso distintivo bordado
sobre o coração.

Convivo sem problemas com um problema na perna esquerda,
resultado da época em que não tinha vacinas neste país.

Mas não foi isso que me impediu de chutar a bunda de um
palmeirense que cuspiu numa bandeira minha, em 1.960,
época do nosso jejum.

Eu tenho visto que a nossa torcida mudou.

Nosso time sempre foi o time do povo, como diziam os amigos
do meu pai, no "Bonrá", o apelido do bairro.

Hoje, vemos um diretor falar que tudo virou business e
ficamos todos quietos, dando razão a esse absurdo.

Na minha época de jovem, o jogador era escolhido por um
olheiro, e devia responsabilidade somente ao clube.

Hoje, eles preferem dar dinheiro aos tais empresários e a
nossa torcida acha que está certo, se conforma.

A torcida do Corinthians não foi assim nunca. Ela sempre
apoiou, mas sempre protestou. Pois quem apóia, paga e
derrama lágrimas, tem sim o direito de expor sua opinião.

Pelo que vejo hoje, dizem que as pessoas mobilizadas
não são corinthianos. O vídeo mostrado por meu
sobrinho-neto, falava em "modinhas" e "cornetas",
palavras que eu não conhecia.

Então, ele me explicou.

Segundo ele, os jovens usam esses nomes para criticar
aqueles que condenam as negociatas e exigem um Corinthians
vencedor.

Por essa regra, os torcedores participativos, que se
sentem responsáveis pelo Timão, são considerados
"sampaulinos".

Eu vi a torcida do Corinthians muitas vezes furiosa.

Havia quem pedisse dinheiro emprestado da sogra para tentar
assistir a um Corinthians x Palmeiras.

Mas o rapaz ficava fulo da vida se o time não correspondia.

Meu pai encrencou com meia cidade em 1.933, quando o
cartola da época vendeu meio time para fazer dinheiro.

Aí, fomos enfrentar o palestra e tomamos de 0 x 8.

A torcida nossa fez uma loucura e chegou a botar fogo na sede.

Eu não acho a violência o modo correto de protestar. E nem
acho que jogar cadeira no diretor é coisa de gente com cabeça
no lugar.

Mas eu entendo como essas coisas são no espírito do
Fiel, principalmente dos mais simples, que têm o Corinthians
com uma das únicas alegrias da vida.

Eu já não era novinho na época da Ditadura, mas ainda ia aos
jogos e vi a Gaviões da Fiel protestar contra os bandidos do
clube e vi também essa turma pedir Anistia e Diretas-Já.

Em 1.984, havia muitas bandeiras nossas nos comícios da
Sé e do Anhangabaú.

Meu pensamento pode estar meio desordenado, mas eu quero
dizer que a gente sempre tem que assumir o comando das
coisas. Se a gente gosta mesmo, tem que apoiar e cobrar.

O que aconteceu com as vendas desses jogadores foi um
exemplo de que eles querem é fazer lucro rápido e não pensam
em você, jovem torcedor.

Hoje, o business é tudo. Mas isso não está certo. Eles não
respeitam os contratinhos e deixam os empresários tomar
conta do que é seu.

Foi por isso que entregamos o sonho da tal coroa tripla.

Agora de noite, vi nosso técnico dizendo que não dá mais, que
não temos mais chances. E isso antes de acabar o primeiro
turno, hein...

Pra mim, isso é triste, pois nunca vi o Corinthians se render.

Jovem torcedor, lute pela nossa tradição. Não tenha medo de
erguer a voz, pois esse clube nós fizemos para você. Cuide
dele com carinho e respeite sua tradição.

Não deixe este diamante se quebrar.


Rubens Calábria, Vila Matilde, SP, Capital, Brasil

Um comentário:

Marcio Amaral disse...

Emocionante Pulguinha!!! é nois que tá mlk tenso....