sexta-feira, 4 de julho de 2008

Entrevista para Agência Reporter Social

WILDNER D PAULA ROCHA, o Pulguinha (diretor da Gaviões da Fiel)

Vice-presidente e diretor social da maior torcida organizada do país diz que a busca pela justiça social é obrigação de qualquer organização

Para além das arquibancadas lotadas e dos hinos cantados nos jogos do Corinthians, para além da escola de samba, a Gaviões da Fiel assume-se cada dia mais como um movimento social. A maior torcida organizada do país, que completa 36 anos nesta sexta-feira, não apenas realiza projetos sociais de apoio à sua comunidade, mas busca construir uma postura política e crítica que já é expressa de várias maneiras. Nesta entrevista exclusiva à Agência Repórter Social, o vice-presidente e diretor social da Gaviões da Fiel, Wildner D Paula Rocha, o Pulguinha, deixa claro que as bandeiras que a torcida hoje carrega não são apenas as alvinegras corintianas. A Gaviões apóia o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (de quem já usaram bonés durante partida de futebol), defende a causa cubana (participando de atos de apoio a Cuba), milita a favor dos sem-teto (abrigando famílias despejadas de terreno em litígio). No entanto, Pulguinha faz questão de mostrar que este fenômeno da politização das torcidas não é exclusivo da sua torcida. E também expressa com certa indignação a omissão dos clubes de futebol diante da realidade do país. "Já vi menino de 12 anos com agente e contrato", conta. "Se o Estatuto da Criança pega isso..." Aos 27 anos, 17 dos quais dedicados ao trabalho na Gaviões da Fiel, Pulguinha é exemplo da transformação que uma paixão bem direcionada pode promover. Está cursando um pré-vestibular para tentar entrar em um curso de Direito e, um dia, advogar a favor dos movimentos sociais.

por LÍGIA LIGABUE

Repórter Social – Por que uma torcida organizada de um time de futebol decide atuar em projetos sociais?

Wildner Pulguinha - A torcida já estava unida, já havia uma sede e reuniões, toda uma estrutura. Não poderíamos deixar de aproveitar a oportunidade de já estarmos organizados. E desde o início do grêmio, há trinta anos, já existia essa preocupação. Participamos da luta contra a ditadura, pela anistia, apoiamos a Diretas Já. Sempre tivemos esse caráter mobilizador. Mas estamos, desde 1999, abandonando o perfil assistencialista que as ações mais pontuais tinham. Essa é a nossa visão. Esse é o caminho para se fazer a verdadeira justiça social. Sentimos isso na pele. Sentimos e somos cobrados por isso. Então iniciamos os nossos trabalhos focados na prevenção social e na inclusão dos jovens. Para isso temos parcerias com a Universidade Paulista (Unip) na aérea jurídica, PUC-SP, na assistência social e com a UniSantana, na parte de comunicação e esportes.

Repórter Social - Quais são os atuais projetos sociais da Gaviões?

Wildner Pulguinha - Com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo estamos desenvolvendo umas oficinas visando à preparação para o carnaval. Hoje, temos aulas de cavaquinho, mestre-sala e porta-bandeira, a de bateria mirim. Além disso, desenvolvemos várias outras oficinas, principalmente com os moradores da Favela do Gato ( atualmente, um conjunto habitacional construído pelo governo municipal). Temos a de futebol, de vôlei feminino, a de capoeira e ainda uns projetos bem legais que vão começar essa semana (de 20 de junho). E ainda apoiamos vários movimentos, como o de acesso à universidade, moradia. Temos também parcerias com universidade, encaminhamos universitários para estágios, etc.

Repórter Social – Há interesse em atender outros públicos, além dos jovens?

Wildner Pulguinha - Neste sábado, começaremos um projeto para crianças a partir de três anos, o Ciranda, Os pais vão participar das reuniões e deixam os filhos com os monitores. Elas passam o tempo com brincadeiras educativas. Também começaremos o Cine Gavião, com exibição de filmes nacionais e sobre futebol. Em breve, ainda teremos um serviço de assistência jurídica em uma parceira com a Unip. Estamos cadastrando as pessoas que serão auxiliadas. Aqui na sede também oferecemos palestras sobre economia no futebol, clubes-empresa.

Repórter Social - Só corintianos buscam os projetos?

Wildner Pulguinha - Não, vários não são corintianos. Alguns participam das oficinas até com camisas de outros times. Deixamos bem claro que os projetos são para toda a comunidade.

Repórter Social - Com quais movimentos sociais a Gaviões vem trabalhando em parceria?

Wildner Pulguinha - Temos participação no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), no dos trabalhadores desempregados, centros acadêmicos e movimentos estudantis.

Repórter Social - Em agosto de 2003, uma parte das 600 famílias de sem-teto que haviam ocupado um terreno da Volkswagem, em São Bernardo do Campo, foram abrigadas na quadra da torcida depois de serem despejadas. Como foi o atendimento aos sem teto?

Wildner Pulguinha - Nós conhecíamos o problema deles através da nossa regional do ABC. Compreender a luta melhora o diálogo e nós entendíamos o que eles estavam passando. Então, demos assistência naquele absurdo que foi o despejo. Vimos aquelas famílias serem rejeitadas por igrejas e outras instituições, então oferecemos abrigo até a situação ser resolvida. Vimos as portas serem fechadas e nos solidarizamos. Porque essa é a nossa pauta, a luta contra o preconceito, contra a desigualdade. Por isso apoiamos as lutas pela reforma agrária, pelo acesso à universidade. São ações que vão melhorar a vida das pessoas, principalmente dos jovens.

Repórter Social - E a relação com o MST?

Wildner Pulguinha - A experiência com o MST começou em 2001. Recebemos representantes em nossa sede e já visitamos acampamentos. Nossa parceria consiste em grupos de estudos, discussões de conceitos econômicos. É um pessoal muito bacana e apoiamos a sua luta.

Repórter Social - A bateria da Gaviões tocou nas manifestações de apoio a Cuba no Memorial da América Latina. Como foi?

Wildner Pulguinha - Dois associados da Gaviões participam do Projeto Brás-Cubas, de intercâmbio entre os dois países. Nós apoiamos o povo cubano. Sabemos e conhecemos todo o processo de intervenção que o povo cubano sofre. Conhecemos seu processo político e sabemos como funcionam suas assembléias populares. Procuramos conhecer cada projeto e ação que apoiamos. Por isso, apoiamos a causa bolivariana, por isso somos contra a permanência de tropas no Haiti e no Iraque. Somos contra qualquer tipo de ação contra a soberania de um povo.

Repórter Social - A Gaviões foi a primeira torcida a protestar a contra o racismo no futebol após o caso Grafite (jogador do São Paulo que teria sido chamado de “macaco” por um jogador do time argentino Quilmes, em partida pela Copa Libertadores). Por que defender um atleta de time adversário? Houve alguma resistência interna a esta atitude?

Wildner Pulguinha - Repudiamos qualquer ato de violência contra o ser humano. Sobre o caso, nós decidimos fazer o bandeirão contra o preconceito. Porque não importa o time... a gente tem que se pronunciar contra esse tipo de conduta. Hoje, a Gaviões trabalha com outras torcidas para evitar confrontos, violência. Discutimos com outras diretorias e com a tropa-de-choque horários diferentes para entrada e saída dos estádios.

Repórter Social – Por falar em violência, como é manter os projetos sob ameaça constante das torcidas organizadas serem fechadas?

Wildner Pulguinha - Os Gaviões não se preocupam não. A questão da violência é amplamente discutida aqui. Desenvolvemos ações preventivas e quem é acusado sofre os processos internos. Deixamos bem claros os limites. A violência no futebol é uma coisa muito profunda e para isso criamos um grupo de estudos para discutir o tema. No Brasil, as brigas não têm o caráter político dos hooligans ou de outras organizadas internacionais. Nós temos o interesse de discutir o assunto, mas na maioria das vezes a responsabilidade cai sobre nós. Mas ninguém vê que é no futebol, torcendo, que o jovem extravasa suas frustrações. De qualquer jeito, a violência nunca é a resposta e trabalhamos isso.

Repórter Social - E as outras torcidas? Mantêm projetos sociais?

Wildner Pulguinha - A Mancha Verde (do Palmeiras) tinha. A Torcida Jovem, do Santos, tem um trabalho legal, mas acredito que não tão amplo. Atualmente estamos trabalhando com a Independente (do São Paulo) na preparação de um Fórum Nacional das Torcidas Organizadas.

Repórter Social - E quanto aos clubes? Eles desenvolvem ações sociais também?

Wildner Pulguinha - Olha, acho que não tem nada. O Corinthians e os clubes em geral deveriam ter essa postura social, já que eles possuem escolinhas de futebol, essa ação através do esporte. Mas o que eles fazem é pelo lado do mercado. Não tem clube com trabalho com a comunidade. Eles deveriam usar essa inserção e trabalhar o social. Mas não. Assim que descobrem um talento, assinam contrato com o menino. Já vi jogador de 12 anos com agente e contrato. Se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pega isso... É um absurdo!

Repórter Social – Por que os clubes não atuam junto às comunidades?

Wildner Pulguinha - Quando os negócios entram no futebol, os valores populares se perdem. Os times estão pegando caminhos cada vez mas perigosos. Para eles o social é balela e democratizar a gestão, tornar as contas e orçamentos públicos, um absurdo. Isso tem que ser discutido, porque nós, os torcedores, somos o público consumidor do futebol.

Repórter Social – Isso será discutido no fórum de torcidas?

Wildner Pulguinha - Vai sim. Já combinamos com 15 torcidas, as maiores do país. Já temos representantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Pará e Ceará. Ainda não temos a data, mas a Gaviões e a Independente estão organizando.

Repórter Social - E os planos para o futuro?

Wildner Pulguinha - Nosso projeto é colocar a Gaviões cada vez mais à frente das medidas sociais que ajudem a comunidade. Outra grande ambição é a nossa luta pela moralização do futebol. Pretendemos dividir isso com outras organizadas, pois somos o mesmo povo e temos o mesmo perfil. A meta é fazer a diferença já em 4 anos.

Entrevista concedida em 30/06/2005
Link da entrevista : http://www.reportersocial.com.br/entrevista.asp?id=73

2 comentários:

Anônimo disse...

É por esssas e outras que cada dia te admiro mais! te conheci na quadra há uns 15 anos atrás... Faz tempo!
Eu tb estive na Festa de 20 anos de MST e tb tenho atuado em vários projetos sociais e socioambientais Brasil a fora, interior de SP e Amazonas, principalmente.
Parabéns pela garra e determinação!

Marco Antônio disse...

Bom dia a todos



Eu gostaria de entrar em contato via site, porém não encontrei um fale conosco, mas eu queria ressaltar que este é o melhor momento, é a oportunidade que as Torcidas Organizadas têm para reverter a péssima imagem que os veículos de comunicação insistem em divulgar.

Acho que neste momento o Ricardo Teixeira tem papel de inimigo número 1 do povo brasileiro, em especial de quem gosta de futebol e a CONATORG pode começar a aparecer na mídia pegando pesado e batendo forte no cidadão, é a hora de fazer protestos em todos os jogos do brasileirão, hora de dar entrevistas bem pensadas, bem calculadas, é hora de aproveitar e mostrar a população a união entre as torcidas, incluisive isto servirá de exemplo para os integrantes de torcidas que insistem em arrumar brigas, etc.

O mais importante porém, é pregar um boicote a todos os patrocinadores da CBF, pregar que quem compra ou utiliza produtos dos patrocinadores da CBF esta compactuando com desmandos desta entindade na pessoa do Sr. Ricardo Teixeira em nosso pais e assim os patrocinadores aos poucos vão fazer pressão para ele sair ou mudar tudo.

Pessoal esta é a hora das torcidas organizadas se tornarem heróis (inas) perante a opinião popular, mas tem que ser ações pacíficas, bem pensadas, eu acho até que muitos clubes apoiarão financeiramente, mas sem aparecer.

Sugiro um planejamento bem feito, utilizem pessoal de marketing e advogados como suporte, utilizem redes sociais e muito, mas muita mídia, peçam para participar de programas de televisão, rádio, entrevistas em jornais, etc, mas lembrem-se vocês nunca terão o apoio da Globo, terão que fazer barulho sem contar com a Globo, pois esta se puder os esconderão.

Bom é apenas uma idéia, lembrem-se que o trem esta passando, quem não pegar, vai ficar na estação e não saberemos quando passará outro, pode ser nunca mais passe.

Sou apenas UM cidadão incorfomado com o que o Sr. Ricardo Teixeira tem feito ao nosso pais, ao nosso futebol, inconformado com os demandos que ocorrerão por conta da Copa do Mundo e sabedor que sozinho não chegarei a lugar algum, em razão disto me surgiu a idéias de contata-los.

Grande abraço e sucesso a todos



Marco Antônio Gomes